Artículo ‘República de veteranos’ en la revista brasileña Trip, destacando los fuertes principios de vida en común y solidaridad que han guiado el camino de la cooperativa de mayores Trabensol desde sus orígenes hasta la realización del edificio y el comienzo de la convivencia.
Texto y fotografías del artículo original en portugués:
Os 70 anos de vida da professora aposentada espanhola Felisa Laíz cabem no modesto apartamento de 52 metros quadrados para o qual ela se mudou em abril. Não que ela tenha acumulado pouca coisa ou enfrentado revezes financeiros. Mas, sim, porque abriu mão do sobrado com o dobro do tamanho onde morava em Madri e se desfez de muito do que possuía para compartilhar a vida com os 61 companheiros da cooperativa de aposentados Trabensol.
Fundada há 13 anos por ela e por amigos no povoado de Torremocha, perto da capital espanhola, a comunidade é uma espécie de república para os “mais antigos”, como a professora gosta de definir. Cada morador tem direito a uma residência para até duas pessoas, com banheiro, sala e cozinha integrada, um dormitório e uma varanda. No mais, compartilham tudo – área de serviço, lazer e comida, servida em refeitório coletivo. “Não é luxuoso, mas é confortável”, descreve. “Temos jardins, banhos terapêuticos, além de atividades físicas e manuais, conduzidas por nós mesmos”, explica.
Se a ideia de uma comunidade de aposentados pode soar estranha, na prática, ela faz todo sentido. “Começamos a pensar sobre a velhice. Não queríamos que fosse como víamos por aí: ir para asilos ou ficar mudando de casa em casa. Gostamos da ideia de ficar juntos”, relembra Felisa.
Sem solidão
Nas primeiras reuniões, a ideia do Trabensol (sigla para trabalhadores em solidariedade) atraiu 120 interessados, o dobro dos que de fato se mudaram para lá. “Muitos acharam que não ia dar certo. Outros foram afetados pela crise econômica”, comenta a professora. A conta da construção de 6.700 metros quadrados fechou em 5 milhões de euros – 3 deles custeados por um fundo bancário e os outros 2, divididos pelos associados. Cada um contribuiu com 145 mil euros. “É caro. Mas ali estão nossas economias da vida toda”, explica. Além da contribuição inicial, cada morador paga de 850 (quarto individual) a 1.050 euros (duplo) mensais para arcar com os custos do coletivo.
A vida comunitária é um dos principais atrativos da Trabensol, explica a ex-bancária Pilar San Gregorio, 63 anos, há duas semanas no local. “Meu marido e eu sempre nos interessamos em viver de outra maneira – mais humana e menos individualista. Porque a sociedade é cada vez mais egoísta, cada vez nos isolamos mais em nossas próprias casas. Aqui não estamos sozinhos nunca.”